UA-29861581-1 Leão do Norte Xadrez: Algumas palavras com Marcelo

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sexta-feira, 23 de março de 2012

Algumas palavras com Marcelo

As considerações finais desta entrevista serão postadas num segundo momento, Bouwman abre o jogo e pode-se dizer o coração ao falar de sua trajetória e seus ídolos no xadrez. Confira:




1.Como o xadrez começou na sua vida ?

O interesse pelo xadrez foi despertado pela influência de meu pai, que me ensinou as primeiras lições deste nobre jogo. Lembro bem de um período no qual ele jogava com os amigos aos sábados. Como expectador, sentia as emoções que eram mobilizadas durante cada partida.

2. Quando você percebeu que você levava jeito para o jogo? E quais eram seus objetivos quando você começou a competir ?

Lembro das primeiras disputas com amigos de infância e do salto qualitativo que dei depois que li o livro de Bobby Fischer para iniciantes. O elemento tático foi bem apreendido e o gosto pelo ataque não me deixou mais.

Sinceramente, houve um grande período em que eu jogava pelo simples prazer de aprofundar o meu conhecimento do jogo aliado ao prazer de disputar torneios, com todos os seus rituais, sem me preocupar tanto com metas e objetivos. A atração que vivi era de forte intensidade. Isso se deu na minha adolescência.

3. Quais você considera suas principais conquistas ?

Em termos desportivos, fui tricampeão pernambucano estudantil e vice-campeão brasileiro escolar aos quinze anos. Conquistei em 2005 o hexacampeonato estadual, numa seqüência iniciada em 1991, aos 21 anos. Nacionalmente, talvez a maior conquista tenha sido a vitória na Copa dos Campeões Estaduais em 2000, no Espírito Santo, o que me permitiu disputar pela primeira vez uma final do campeonato brasileiro.

Mas as principais conquistas no xadrez são os amigos que fazem parte de minha vida. Esse legado não tem preço!

4. No Memorial Bobby Fischer na Paraíba, você jogou muito bem e terminou invicto em 2 lugar, o que dizer do desempenho lá ? O que você percebeu de melhoria na sua forma esse ano?

Voltar aos torneios não é uma experiência fácil. Readquirir ritmo de jogo, concentração e manter a reflexão ativa demanda trabalho e tempo. Sem falar nos aspectos psicológicos, como a retomada da confiança. Em Natal, no Carnaval, cometi erros táticos evidentes. O que não ocorreu em João Pessoa. Ainda há muito a melhorar, principalmente no quesito abertura. Mas o resultado estimula e motiva.

5. Conte-nos resumidamente, como era a sua rotina de treinamento na época em que você mais se dedicou ao xadrez.

Há 12 anos atrás não se dispunha dos recursos que temos hoje, como os DVDs de treinamento por exemplo. Basicamente, aliava o estudo do meio-jogo em livros com a prática do xadrez ativo com amigos. Teoria e prática, compreensão e reflexão ativa, juízo da realidade e tomada de decisão, eram e continuam sendo os pilares de qualquer treinamento sério.

6. Tem algum livro que tenha te ajudado, em especial, a melhorar o seu jogo?

Os livros de estratégia do Pachmann, do Grau e do Ninzowitch foram importantes na evolução do meu jogo. Em especial, o volume III do Tratado Geral, de Roberto Grau.

O estudo das partidas comentadas pelos grandes enxadristas também merece destaque, como as de Alekhine, Botvinnik, Smyslov, Tahl, Fischer, Karpov. Mais recentemente a série dos "Meus Grandes Predecessores", do Kasparov, é de excelente qualidade.

7. Quais os seus jogadores favoritos?

Falei de vários campeões mundiais, mas tenho especial simpatia por David Bronstein. Passei a admirá-lo através de seus livros "El ajedrez de torneo", onde ele analisa o forte torneio de Zurique, em 1953, e o mais recente "Aprendiz de Brujo", que revela a sua clareza em analisar o dinamismo e a complexidade do jogo de xadrez.

Mas, para ser sincero com a pergunta, os meus jogadores favoritos são Vinícius Tiné Martins e Yago de Moura Santiago. Dois expoentes do xadrez pernambucano que tive o privilégio de acompanhar, passo a passo, na evolução de seus jogos. Talento e dedicação, aliados, deixando-nos com a esperança de ver Pernambuco brilhar no cenário nacional!

8. Com o nascimento de suas filhas, imaginava que conseguiria voltar a competir ? Como você concilia ?

De uma certa maneira, na minha trajetória como enxadrista e como amante do xadrez, sempre tive o desafio de equilibrar esse especial interesse com os outros, talvez de maior importância, como a Medicina e a Psicanálise. O "talvez" é para brincar um pouco. Com o crescimento da Família, nossos objetivos de vida se transformam bastante. Passei muito tempo afastado das competições, jogando alguns torneios isolados ao longo dos últimos anos. A última final do Campeonato Pernambucano que participei já está fazendo 7 anos!

Conciliar as diversas áreas de nossa vida anímica, buscando o equilíbrio e a serenidade, continua sendo um grande desafio para mim.

9. Quais os seus próximos objetivos? Que torneios pretende disputar ? Pensa em final do Brasileiro este ano ?

Penso em me aproximar um pouco mais do xadrez de torneios, a partir deste ano. Não dá para deixar de lado uma paixão como esta. De uma forma bem mais despretensiosa pretendo jogar boas partidas e continuar desvendando os segredos do pensamento enxadrístico. Vejo o xadrez, sobretudo como uma Arte, que ajuda o homem a viver melhor, com mais beleza e coerência.

Pretendo jogar o Aberto do Brasil em Fortaleza, na semana santa. Não penso em Final de Brasileiro, não é uma meta, mas isso nunca se sabe, as oportunidades aparecem por caminhos que não controlamos...

10. Qual a partida que você jogou que mais gostou?

Sendo auto-crítico não joguei nenhuma partida espetacular nesses dois torneios, mas em João Pessoa voltei a sentir a força do xadrez dinâmico, onde somos levados a participar de uma composição singular, fruto do encontro de duas subjetividades livres para criar!

11. Como você vê a atual situação do xadrez pernambucano ?

Vejo um grande potencial no xadrez em Pernambuco. Existe uma forte tradição a ser reconhecida e valorizada. Uma nova onda de entusiasmo e criatividade está por vir. Uma convergência de iniciativas está em curso. Vamos em frente!

12. Qual sua opinião sobre um novo espaço para a prática do xadrez em Pernambuco ?

Vejo com bons olhos o surgimento de espaços alternativos para a prática do bom xadrez. Uma sede física é um anseio de muitos enxadristas em Recife. Esse movimento é saudável e legítimo, mostrando que o xadrez compõe o universo cultural de nossa cidade, juntamente com os mangues, o frevo e o rio poético de nossos artistas.

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